Não vivi os anos 50, mas queria ter vivido. Foi o período "dourado", época de grandes realizações. Pelo menos foi isso que a exposição Os anos JK - A era do novo me mostrou em seu penúltimo dia de realização.
No sábado passado, dia 10, acordei atrasado. Tudo bem, você pode fazer a seguinte pergunta: acordou atrasado em pleno sábado? Como? Pois é... No último dia 10 eu havia marcado uma ida à exposição "Maureen Bisilliat - Fotografias" no Sesi, atividade complementar de Fotojornalismo. Enfim, após sair da exposição de Foto fui à exposição dos "Anos JK".
Antes de contar o que vi na exposição, cabe algumas considerações sobre o caminho que percorri, da Estação da Sé à Galeria Dom Pedro II:
** Imagine a cena:
Estação da Sé e arredores infestados de pessoas. Saio do metrô e penso: "Para onde vou, afinal nunca tinha (ao que me lembro) ido à Estação da Sé?". Ando um pouco, procuro pela Praça da Sé, não a encontro. Estava perdidaço em pleno centro da cidade, que deveria conhecer como ninguém, ou não? Encontro a informação que desejava com uma senhora que, sentada em um banco, comia algo que não identifiquei.
Praça da Sé encontrada, finalmente! Vou andando, com minha mala do lado direito. Seguro-a fortemente, já que o perigo está por todo lado. Explico: ao chegar à praça, olho para a Catedral da Sé e encontro nas escadarias uma multidão de pessoas "mal-encaradas" aparentemente; mais adiante, gente ao lado, à frente e atrás falando alto, o que é pior. Em um espaço rodeado de mendigos, deparo-me com um discurso - campanha presidencial? Não! Era um grupo religioso exaltando sua doutrina e chamando os fieis. Mas que me assustou, ah!, isso sim!
Olhando para todos os lados possíveis - naquele momento queria ter olhos por toda a cabeça -, vou chegando ao local da exposição. Ah! Esqueci de contar o pior daquele trajeto até a Praça da Sé. A sujeira, o odor podre infestava aquele ambiente da cidade paulistana - uma cidade que precisa de cuidados, limpeza e muito mais! A calçada fedida misturava-se com o ar poluído da "cidade da garoa".
O caminho até a Galeria Dom Pedro II era extenso. Não fisicamente, mas emocionalmente. Percorrer aquela praça, cheia de mendigos e recheada de sujeira, me fez pensar na sociedade desigual que somos. Meu roteiro cotidiano percorre ambientes melhores, desde Av. Pacaembu até a Av. Paulista. E encontrar aquilo em pleno sábado, um dia nublado com possibilidade de chuva, não poderia causar outra reação. Não acha?
Enfim... Lamentar-se, porém sem poder ajudar, é criar pensamentos sem fundamento. Voltando ao objeto deste post - a exposição - ...
** A exposição
Era do novo: esse é o subtítulo da exposição "Os anos JK". A mostra reúne fotos de Sérgio Jorge e Jean Manzon sobre o período de governo de Juscelino Kubitschek, que assumiu a presidência brasileira no ano de 1956. Ao tomar posse do cargo, JK prometeu melhorar o Brasil, e para isso utilizou o famoso slogan "50 anos em 5". A exposição retrata justamente essa época, os desdobramentos da política "JKniana" no poder.
O primeiro espaço da mostra reúne objetos de Juscelino, como óculos, uma cadeira. Também está presente na sala um rádio, fazendo referência à influência do primeiro meio de comunicação de massa na sociedade brasileira. A influência? Política e ideológica, é claro. Vargas já usufruia dos benefícios radiofônicos para divulgar suas ideias, JK não foi o primeiro, pois.
Andando varagosamente somos levados à próxima sala. Esta me encantou, já que retrata o esporte brasileiro naquela época. Contexto de grandes conquistas, tanto no futebol, com o título da Copa de 58, quanto no tênis, com Maria Esther Bueno. Vale destacar também a qualidade de Eder Jofre no boxe.
Enfim, os anos 50 foram, sim, dourados para o esporte nacional. No entanto, o governo brasileiro incentivou a prática esportiva. Ok, você deve estar se perguntando: mas isso não é bom? Digo o motivo da ressalva: a prática de esportes permeava o imaginário do povo com ídolos, ou seja, criava figuras positivas. Isto era utilizado pelos líderes políticos como instrumento de poder.
No próximo cenário da exposição, o "coroamento" do Plano de Metas de Juscelino: a construção da capital Brasília. Integração nacional ou centralização do poder? Fica a questão para reflexão. Mais adiante, noto duas imagens que me chamam a atenção: figuras mostram o prédio da Fundação Cásper Líbero e a reportagem da TV Gazeta na cobertura da construção da capital. Me vem à mente o pensamento "Estudo em uma faculdade de jornalismo pioneira". Naquele momento, meus olhos brilharam.
Emoções à parte, no outro espaço as fotos retratam a indústria automobilística em ascensão no Brasil. Fruto do Plano de Desenvolvimento, a indústria em questão cresce e montadoras estrangeiras, como a Volkswagen, vêm para o nosso país. Evolução? Economicamente, em parte sim. Socialmente, não. Explico: o setor industrial teve auge no período e aumentou as finanças brasileiras, porém elevou a inflação e não melhorou a situação desigual da sociedade nacional.
Destaco da exposição ainda a presença dos meios de comunicação de massa - rádio e TV - , além do cinema e da publicidade, todos esses fortes aliados do governo brasileiro. Até hoje, ou não?!
Por fim, ressalto a qualidade das fotos, entretanto critico o apelo favorável ao período. Concordo que os anos 50 foram de desenvolvimento cultural (nas artes, no cinema, na literatura, na música), mas o país não evoluiu tanto como foi retratado na exposição. Menos parcialidade, mais informação! Assim a mostra teria sido bem melhor!
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