Um sábado ensolarado, pós-feriado. Nas ruas da Pauliceia, pouca gente. Menos que o de costume. Na Avenida Paulista, turistas desfilam com sorrisos largos nos rostos e sotaque forte. Um trio arrisca o português enquanto espera na fila para comprar o ingresso no Masp. Uma cena típica. Logo na frente, o carinho entre pai e filho torna a espera da fila menos desagradável.
O elevador enche, grande parte para ver a videoexposição 6 bilhões de Outros. São quase 17h e o Masp fecha às 18h. Pouco tempo para muito conteúdo. Ok, a escolha do horário foi minha, tremendo idiota que sou. A revolta para por instantes enquanto pessoas, ou melhor, rostos de vários lugares contam sobre suas vidas por meio de gravações. Mandam mensagens de diversos locais no mundo, da Rússia à Etiópia. É uma mistura de nacionalidades.
Com olhar relaxado, observação mais que atenta, entramos nos corações daquelas pessoas. Rostos que trazem alegria, expressões de tristeza e até choro. Sentimentos alternados e espalhados pelo planeta inteiro.
Quando tudo parecia estar no começo, o aviso de um funcionário de que o expediente estava sendo encerrado. Penso que deveria ter ido mais cedo.
De volta à Odisseia paulistana, que abrigará hoje a Parada Gay por sinal, clamo por silêncio em meio ao barulho da cidade. É uma pausa diferente. Dispensa falas, não observação. Um olhar mais lento, que vê e enxerga. O ouvido que busca captar todos os sons possíveis, das buzinas dos carros ao caminhar das pessoas.
O vento roça a pele. Não é frio, só a sensação de estar vivo. Um chocolate quente reaquece e conforta. Foi a escolha ideal naquele início de noite. Os termômetros ambulantes na Paulista marcavam 10 graus. Um sorvete cairia muito bem àquela altura.
Para desanuviar pensamentos, o passeio despretencioso e sem rumo certo. O caminho definido ao longo da trajetória. Uma viagem sem hora marcada para voltar.
Ser flâneur por algumas horas é isso. Parar e olhar, esquecer das preocupações e sentir a vida. Escutar a conversa de duas pessoas, andar para todos os lados. Tocar a cidade e as ruas com os sentidos. Uma pausa para enxergar o que não é visto. E passar sem ser notado. Silenciar diante do caos ensurdecedor da metrópole. Para ver, entender e compreendê-la, nem que seja por algumas horas de um dia ensolarado e uma noite gelada.
Hoje sem querer descobri que sou um flâneur, graças à sua crônica.
ResponderExcluirDesde pequeno gostava de caminhar sozinho pelas ruas do bairro da Casa Verde. De vez em quando refaço estes trajetos por puro saudosismo.
Gosto de rever lugares onde brinquei, estudei ou passava minhas tardes de domingo, na maioria das vezes nas matinês dos cines Sta. Izabel ou Dom José ou no picadeiro de um circo armado nos terrenos baldios.
É um barato ter a sensação de voltar no tempo e reviver as mesmas emoções e sentimentos daqueles velhos e bons tempos.
Parabéns Danylo e grato por mostrar uma faceta da minha personalidade até então desconhecida.
Abraços.