sexta-feira, 16 de julho de 2010

“Eu perdi a posição de titular para grandes jogadores, como Gérson e Rivellino”

Essa entrevista é um trabalho entregue à disciplina "Técnicas e Gêneros Jornalísticos - Jornalismo Básico I" da faculdade.

Ele talvez tenha sido um dos jogadores brasileiros com mais sucesso no futebol equatoriano. Estamos falando de Francisco José Paes, conhecido no Equador como “Pepe” Paes. O ex-meio-campista começou na Portuguesa de Desportos, onde atuou como júnior e, posteriormente, se profissionalizou. Contudo, a passagem por dois clubes populares do Equador, Barcelona e Nove de Outubro, foi o ápice de sua carreira no futebol.

Em sua casa no bairro do Tucuruvi, Paes concedeu essa entrevista, na qual o ex-jogador fala sobre a carreira na Lusa, os títulos no futebol equatoriano, além de comentar sobre sua passagem pela Seleção Brasileira e os desafios para conseguir uma vaga na equipe brasileira titular.

A paixão pelo futebol começou desde cedo?

Muito cedo (risos). Quando a gente ganha a primeira bola da família, principalmente a pessoa que gosta do futebol, já começa a se apaixonar pela redonda [a bola]. Então, eu poderia dizer que essa paixão veio do berço.

Como o senhor entrou na Portuguesa de Desportos?

Quando eu jogava na várzea, algumas pessoas me viram atuar e me indicaram para a Portuguesa. Então, eu fiz um teste, mas não passei por uma peneira, nas quais hoje aparecem milhares de jogadores. Como disse, fiz o teste, fui aprovado e comecei minha carreira na Lusa.

Enquanto o senhor jogava futebol, tinha outra atividade profissional paralela?

Durante o tempo de jogador, não. Mas para começar a jogar futebol [Paes cita que na época os jogadores não eram bem renumerados e, inclusive, as famílias pensavam que ser jogador de futebol era ser “malandro”, vagabundo], tive que primeiro me formar em torneiro mecânico. Nesse momento, meus pais me deixaram praticar o esporte. Quando cheguei à Portuguesa, passei a ser remunerado, e meu salário era de acordo com o que eu recebia na época em que trabalhava na fábrica como torneiro mecânico.

Qual foi seu melhor momento no clube?

O ano com melhores condições na Portuguesa foi em 1966. Fizemos uma boa temporada. Depois, fui chamado para a Seleção Brasileira em 1967, um momento muito marcante na minha carreira. No entanto, devo manifestar novamente que o melhor ano na Lusa foi em 1966.

O senhor lembra-se de algum jogo ou gol em especial que marcou sua carreira na Lusa e, especificamente, no ano de 66?

Hum (pausa). Um jogo que mais marcou, principalmente pela torcida que estava a nosso favor no Parque Antártica, foi contra o Santos. Se a gente ganhasse, automaticamente o Palmeiras seria campeão. Então, eu fiz um gol, ganhamos de 1 a 0, o que deu o título ao Palmeiras. Foi uma vibração muito grande no Parque Antártica (risos). Mas era mais torcida do Palmeiras que da Lusa. E isso ficou marcado, porque inclusive depois os diretores do Palmeiras me presentearam com um relógio de ouro.

O senhor comentou que jogou pela Seleção Brasileira. Qual foi a sensação de atuar com a amarelinha?

Olha (pausa). Eu só participei do elenco que ganhou a Taça Rio Branco. Só joguei alguns amistosos, como a partida contra o Gre-Nal [combinado especial de alguns jogadores das equipes de Grêmio e Internacional] em Porto Alegre. Nesta época, a Seleção tinha uma base que era o Cruzeiro, um time muito bom, o meio-campo formado por Wilson Piazza, Tostão e Dirceu Lopes. Então, foram eles que atuaram mais. O trabalho que dirigentes e treinadores fazem na Seleção mostra ao garoto que aquilo é uma passagem, mas uma passagem na qual ele tem de esforçar-se cada vez mais. Porque chegar à Seleção é fácil, o difícil é se manter. Assim, para mim foi muito difícil, fui perdendo a posição. Por mais que você se esforce, há outros que são melhores na época. E eu perdi a posição de titular para grandes jogadores, como Gérson e Rivellino. Portanto, não tenho do que reclamar.

Como foi jogar ao lado de craques, como Tostão, Piazza e outros?

Quando você joga ao lado de craques, o seu futebol fica mais claro, porque você entrega a bola “quadrada” e recebe redonda (risos). Então, jogar com o Tostão era muito fácil, porque o “baixinho” tinha uma facilidade com a bola nos pés.

E o Pelé?

Não... Com o Pelé eu não joguei. Eu lembro que houve uma Seleção Paulista de Profissionais, na qual eu estava, para a qual ele foi convocado, mas não jogou porque estava machucado. Mas o difícil mesmo era jogar contra ele (risos). Porque você não sabia o que ele ia fazer. Outro jogador complicado de marcar foi o Maradona, contra o qual também atuei posteriormente. São pessoas predestinadas a jogar futebol e difíceis para marcar.

O senhor jogou em muitas oportunidades contra o Pelé e o Maradona?

Hum (pausa). Lembro de um episódio muito curioso. Jogávamos contra o Santos no Pacaembu, nosso time [a Portuguesa] era muito veloz e começamos a partida ganhando. Fizemos 1 a 0, depois 2 a 0. Até aí, o jogo não estava tão difícil. Mas eu me lembro que o Leivinha [meia da Lusa] resolveu fazer a “graça” de meter a bola entre as pernas do Pelé (risos). Ixi... A torcida aplaudiu muito a jogada do “Leiva”. O que aconteceu, porém, foi que acordou “as feras” [referência aos bons jogadores do Santos na época, como Pelé, Pepe, entre outros]. No final, o placar foi de 4 a 2 para os caras [equipe do Santos]. Então, foi difícil porque não vimos mais a “cor da bola”. Posso dizer que aquele jogo ficou marcado...

E contra o Maradona?

Contra o Maradona só joguei em duas oportunidades. Primeiro, em um amistoso pelo Barcelona (Equador) contra o Argentinos Juniors, time em que ele atuava na época. E o segundo também foi um amistoso, só que contra o Boca Juniors, equipe em que jogava o Maradona no momento. Foram dois empates: o primeiro em 1 a 1 e o segundo, 2 a 2. Mesmo assim, os jogos foram difíceis, porque os times que faziam amistosos vinham para “dar espetáculo” e não estavam muito preocupados com o resultado, nem com a equipe adversária.

Já falando sobre essa etapa no Barcelona (do Equador), como foi a mudança para outro país?

No começo, foi bem difícil, pois fui sozinho e deixei a família. Lembro que já estava preparado para voltar, era emprestado pela Portuguesa ao Barcelona, quando a família chegou lá. Tive que me adaptar ao novo ambiente, ao futebol equatoriano, o que demorou cerca de um ano. No início, disputei a Taça Libertadores, fui bem e os dirigentes resolveram me contratar em definitivo, comprando meu passe. Economicamente, não houve muitas vantagens, porque eu recebia praticamente o mesmo valor que ganhava na Portuguesa. Não era como é hoje em dia, em que os jogadores ganham bem e deixam o futuro garantido.

O senhor lembra-se de algum episódio polêmico que presenciou na Portuguesa ou no Barcelona?

Na Portuguesa, não me lembro de nenhum momento polêmico. Agora, no Equador... (pausa e risos). Eu passei dez temporadas lá e não houve uma semana em que não tivesse confusão. A gente chegou até a fazer greve porque não tinha material esportivo para nós treinarmos. Tinha também a pressão, que era muito grande, já que o Barcelona era um time bem popular. Foram momentos complicados, pelos quais consegui passar com muito esforço.

O senhor finalizou a carreira de jogador aos 36 anos. Depois disso, passou a atuar como treinador?

Sim. Em 1984, eu participei de uma partida de despedida no Equador e voltei para o Brasil. Tentei a carreira de treinador, como outros ex-jogadores. Não foi muito fácil no início, eu sempre corri atrás de times pequenos, do interior paulista. Mas ser treinador de futebol foi difícil. Após tentar a carreira de técnico, passei a ser professor de escolinhas de futebol, serviço com o qual trabalho até o momento.

Não poderíamos deixar de falar da Copa do Mundo na África do Sul. Para o senhor, qual a seleção favorita para conquistar o Mundial?

Eu vejo como favoritas as seleções que já conquistaram Mundiais. Dessa forma, eu colocaria Brasil, Itália, Alemanha, Inglaterra, Argentina. As outras seleções, como a Holanda, que sempre desponta, mas nunca conseguiu nada, e a Espanha, que está despontando agora e todos estão comentando, eu não confio. Isso porque, quando chega o momento de decidir, a camisa pesa. Jogos entre a Espanha e as seleções de Argentina, Alemanha, Itália e Brasil acredito que a seleção espanhola não conseguirá vencer. Não será campeã contra essas seleções.

E o que o senhor achou da polêmica convocação do técnico Dunga, e a inclusão de jogadores que pouco atuaram, como o atacante Grafite?

Temos que lembrar que não é só o Dunga que convoca, o auxiliar Jorginho e outras pessoas influenciam na decisão. O treinador, o auxiliar, o supervisor, toda a comissão trabalhou três anos e meio para montar a seleção, não foram dois ou três dias de preparação. Então, eu respeito o trabalho do Dunga, principalmente se analisarmos pelos resultados conquistados por ele e pela Seleção na preparação para o Mundial.

Quais as principais diferenças entre o futebol daquele tempo e o de hoje?

O futebol de antigamente era mais técnico. O jogador aprendia as formas de dominar a bola, driblar etc. O que aconteceu, como tudo na sociedade, foi uma evolução. Hoje, existe uma metodologia para o treinamento de jogadores de futebol. Primeiro, as preparações médica e física, que estão relacionadas. Depois, as preparações técnica e tática, e, por fim, a preparação psicológica. Quando falamos de preparação médica, entra o trabalho de nutricionistas, fisiologistas e outros profissionais da área. E a preparação física exige profissionais especializados, como treinador de goleiros. Na minha época, não tinha muito isso e os treinadores selecionavam os que tinham melhor disposição técnica. Era um futebol técnico e com pouca preparação física e médica. Hoje em dia, o futebol é mais físico, mais “contato”

Como é a sua vida hoje em dia: hobbies, rotina...?

Hobbie, que um dia foi profissão, será sempre jogar futebol. E também assistir a partidas na televisão, o que algumas pessoas não gostam muito [faz sinal para a esposa]. O futebol sempre vai estar dentro da gente.
(FOTO: MEU ARQUIVO)

2 comentários:

  1. amei Danylo ,tenho certeza que você vai ser um grande jornalista ,e um grande amigo para mim . teadoro

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  2. Obrigado, Babi, pela visita no blog.

    Também te considero uma grande amiga.

    Até mais!

    Continue visitando o Fatos.

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